YUMBANDHÊ

YUMBANDHÊ

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A HISTÓRIA DA ENCANTARIA E DO TAMBOR DE MINA

TAMBOR DE MINA JEJE-NAGO

Vale dizer o seguinte, o Tambor de Mina apesar de ser uma religião mediúnica não corresponde em si mesma a umbanda. Apesar de muitos terreiros de mina se denominarem umbanda, segundo muitos escritores, a UMBANDA BRANCA OU RAIZ, diverge em muito nas práticas.

O tambor – de – mina, religião afro – brasileira que se formou no Maranhão no século passado, é uma religião de voduns, orixás e encantados. Dois dos antigos terreiros de São Luís, fundados por africanos em meados do século passado, sobreviveram até os dias de hoje e constituem a matriz cultural do tambor – de – mina, a Casa Grande das Minas e Casa de Nagô.

A Casa das Minas, de cultura jeje, é um terreiro de culto exclusivo aos voduns, os deuses jejes, os quais, entretanto, hospedam alguns voduns nagôs, ou orixás, não havendo culto a encantados ou caboclos. Já a Casa de Nagô, de origem Yorubá, cultua voduns, orixás e encantados ou caboclos, que são espíritos de reis, nobres, índios, turcos, etc.

Desta casa originaram-se muitos terreiros, proliferando-se por toda a São Luís e outras localidades da região de um modelo de tambor – de – mina fundado nessa concepção religiosa de culto a voduns e encantados, encantados que em muitos terreiros têm o mesmo status de divindades dos voduns, com eles se misturando nos ritos em pé de igualdade. Do Maranhão o tambor – de mina propagou-se pelo Pará, onde encontrou fertilíssimo terreno para novos sincretismos e assimilações a partir do contato com a pajelança, culto de origem indígena. O panteão da encantaria enriqueceu-se de tal modo em terras paraenses que há quem diga que “Maranhão é terra de vodum e o Pará, de encantado”.

O culto dos encantados é parte muito importante do tambor – de – mina, estando ausente apenas da Casa das Minas. Como os voduns, os caboclos ou encantados estão reunidos em famílias, algumas delas características de certas casas, como o centenário Terreiro da Turquia, onde caboclos turcos ou mouros são as entidades mais importantes do culto. O nome caboclo, usado genericamente no tambor – de – mina para se referir a um encantado, não significa tratar-se necessariamente de entidade indígena, reunindo uma diversidade de entidades de origens variadas. Enquanto as danças para os voduns são realizadas ao som de cânticos (doutrinas) em língua ritual de origem africana, hoje intraduzível, os encantados dançam ao som de música cantada em português. 

Os seguidores do tambor – de – mina, autodenominados mineiros, acreditam que os encantados são espíritos de pessoas que um dia viveram e que não morreram, mas se “encantaram”, passando a existir no mundo “invisível”, do qual retornam ao mundo dos homens no corpo de seus iniciados, em transe ritual. Manifestando-se assim “na cabeça” de seus filhos ou iniciados, ou na “croa”(coroa), como se costuma dizer mina, os encantados “vêm à terra”, descem na guma (terreiro), para dançar e conviver com os mortais, estabelecendo com todos os que comparecem aos terreiros relações de afeto e clientela. Dançam, cantam, bebem, conversam. Contam suas histórias, fazem amigos e protegidos, dirigem cerimônias rituais, fazem cura, resolvem problemas de toda sorte. Tão presentes são num terreiro de mina, que às vezes é difícil encontrar no terreiro um filho – de – santo que não esteja “atuado”, isto é, em transe com seu caboclo. Em São Luís não é raro o filho – de – santo comparecer “atuado” a missas, festas profanas, e mesmo locais de lazer, como bares, onde o encantado bebe na companhia de amigos mortais. Um mineiro com seu encantado é capaz de dançar noites inteiras, por vários dias sucessivos, bebendo e interagindo com outros encantados “atuados” e demais presentes. 

No tambor – de – mina, assim como os voduns da Casa das Minas, os encantados estão reunidos em famílias, cada uma com características próprias, cores, festas etc. De modo geral as famílias mantêm suas características de terreiro para terreiro, reunindo os mesmos encantados, mas não raro variantes podem ser observadas tanto no Maranhão como no Pará. Em São Paulo, as famílias dos encantados têm também absorvido caboclos da umbanda e do candomblé, justificando-se tal agregação por meio de parentescos míticos que são reelaborados a partir de lendas que fazem parte das tradições da encantaria de mina e da umbanda. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário